domingo, 26 de junho de 2011

Coesão e Coerência

Coesão e Coerência

Um dos problemas encontrados com mais frequência nos textos é a falta de coesão e de coerência. É comum encontrarmos textos que iniciam com um tema e terminam com outro, mostrando falta de unidade, falta de coerência. Além da falta de coerência, há falta de coesão, o que torna, muitas vezes, os períodos ininteligíveis.
Mas, o que é coerência e o que é coesão?
Comecemos pela organização textual. Todo texto é composto por uma macroestrutura e uma microestrutura.
A macroestrutura refere-se à coerência, ou seja, à manutenção da mesma referência temática em toda extensão. Para que ela exista é necessário:
a) harmonia de sentido de modo a não ter nada ilógico, nada desconexo;
b) relação entre as partes do texto, criando uma unidade de sentido.
c) as partes devem estar inter-relacionadas;
d) expor uma informação nova e expandir o texto;
e) não apresentar contradições entre as idéias;
f) apresentar um ponto de vista, uma nova visão de mundo.

Mas, a coerência é uma característica textual que depende da interação do texto, do seu produtor e daquele que procura compreendê-lo. Muito depende do receptor, de seu conhecimento de mundo, da situação de produção do texto e do grau de domínio dos elementos lingüísticos constantes do texto. Veja no exemplo abaixo a falta desse domínio, o que parece tornar o texto incoerente. Essa incoerência, proposital neste caso, torna o texto uma piada.
- Eu gosto tanto de frango, mas tenho medo de gripe aviária.
- Ah, mas só dá na Ásia, responderam.
- Justo na parte de que eu mais gosto? (Folha de São Paulo, 18 de março de 2006, p. E13).

Há diversos níveis de coerência:
a) Coerência narrativa : respeito às partes da narrativa e à lógica existente entre essas partes.
b) Coerência argumentativa : respeito à estrutura argumentativa e ao raciocínio argumentativo.
c) Coerência figurativa : respeito à combinatória de figuras para manifestar um dado tema. Por exemplo, dizer que tocavam uma música clássica num baile funk.
d) Coerência temporal: respeito às leis da sucessividade dos eventos.
e) Coerência espacial: respeito à compatibilidade entre os enunciados do ponto da localização no espaço. Por exemplo, seria incoerente dizer que 450 pessoas estavam na sala de estar do apartamento.
f) Coerência no nível de linguagem: respeito à compatibilidade entre personagens e receptor e seus respectivos níveis de linguagem. Um personagem não escolarizado, dificilmente, produziria textos no padrão culto.
Portanto, a coerência deve ser entendida como um fator que se estabelece no processo de comunicação. A coerência não existe antes do texto, mas constrói-se simultaneamente à construção do texto, estreitamente relacionada com a intenção e conhecimentos dos interlocutores.

A microestrutura refere-se à coesão, ou seja, ligação das frases, concatenação entre as partes, traços morfossintáticos que garantem o encadeamento lógico.
Para que o texto seja coeso, deve seguir pelo menos um dos mecanismos de coesão:
a) Retomada de termos, expressões ou frases já ditas.
b) Encadeamento de segmentos do texto, feito com conectores ou operadores discursivos, tais como então, portanto, mas, já que, porque...
Veja o exemplo baixo
• As regras foram criadas para o bom funcionamento das tarefas, portanto, aqueles que não as obedecerem serão punidos.
Ao encadear com conectores os segmentos do texto, devemos usá-los de acordo com a relação que queremos dar a essa união. Por exemplo, se quisermos passar a idéia de oposição, deveremos usar as conjunções adversativas mas, porém, contudo, todavia...
As conjunções, pronomes relativos, preposições, elementos conectores, podem ser encontrados em qualquer gramática de língua portuguesa. Há uma delas nas referências bibliográficas abaixo.

- Referências Bibliográficas
CUNHA, Celso; CINTRA, Lindley. Nova Gramática do Português Contemporâneo. 3 ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001.

MEDEIROS, João Bosco. Português Instrumental. São Paulo: Atlas, 2007.

NETO, Pasquale Cipro. Nossa língua em letra e música. São Paulo: Publifolha, 2003.

PLATÃO e FIORIN. Lições de texto: leitura e redação. 5 ed. São Paulo: Ática, 2006.

SIQUEIRA, João H. Sayeg. O texto: movimentos de leitura, táticas de produção, critérios de avaliação. São Paulo: Selinunte, 1990.


- Exercícios

COESÃO TEXTUAL

Junte os pares de orações abaixo, de tal forma que entre elas se estabeleça a relação indicada. Faça as alterações que forem necessárias.

Relação de concessão

a) Seu projeto foi recusado.
b) As explicações foram convincentes.


Relação de finalidade

a) Resolvemos ficar em casa.
b) Assim poderíamos descansar.


Relação de concessão

a) Houve vários imprevistos durante a viagem.
b) Tudo foi cuidadosamente planejado.


Relação de proporção

a) Ele crescia.
b) Ele ficava mais magro.


Relação de comparação

a) Ele era estudioso. 
b) Todos os outros alunos da turma eram estudiosos.


Relação de tempo

a) Meus amigos vieram visitar-me.
b) Cheguei de viagem.


Complete o texto abaixo, com as palavras destacadas, de forma a torná-lo coeso e coerente:


A ansiedade costuma surgir___________________se enfrenta uma situação desconhecida. Ela é benéfica_____________prepara a mente para desafios, _________ falar em público. _________________,_____________________ provoca preocupação exagerada, tensão muscular, tremores, in­sônia, suor demasiado, taquicardia, medo de falar com estranhos ou de ser criticado em situações sociais, pode indicar uma ansiedade generalizada, ______________________ requer acompanhamento médico, ou até transtornos mais graves,_______________________ fobia, pânico ou obsessão compulsiva. __________________ apenas 20% das vítimas de ansiedade busquem ajuda
médica, o problema pode e deve ser tratado. _______________ se pro­cure um clínico-geral num primeiro momento, é importante a orientação de um psiquiatra, _____________________prescreverá a medicação adequada. A terapia, em geral, é à base de antidepressivos. "Hoje existe uma geração mais moderna desses remédios", explica o psiquiatra Márcio Bernik, de São Paulo, coordenador do Ambulatório de Ansiedade, da Faculdade de Medi­cina da Universidade de São Paulo. "____________mais eficazes, não provocam ganho de peso nem oscilação no desejo sexua1." Outra vantagem: não apresentam riscos ao paciente caso ele venha a ingerir uma dosagem muito alta.

Fonte: Claudia, nov. 2000.

além de - quando - embora - mas - se - que - que - como - mesmo que - se - como

COESÃO E COERÊNCIA - EXERCÍCIOS
I. Reescreva os trechos fazendo a devida coesão. Utilize artigos, pronomes ou advérbios. Não se esqueça de que a elipse (omissão de um termo) também é um mecanismo de coesão.
1. A gravata do uniforme de Pedro está velha e surrada. A minha gravata está novinha em folha.
2. Ontem fui conhecer o novo apartamento do Tiago. Tiago comprou o apartamento com o dinheiro recebido do jornal.
3. Perto da estação havia um pequeno restaurante. No restaurante costumavam reunir-se os trabalhadores da ferrovia.
4. No quintal, as crianças brincavam. O prédio vizinho estava em construção. Os carros passavam buzinando. As brincadeiras, o barulho da construção e das buzinas tiravam-me a concentração no trabalho que eu estava fazendo.
5. Os convidados chegaram atrasados. Os convidados tinham errado o caminho e custaram a encontrar alguém que orientasse o caminho aos convidados.
6. Os candidatos foram convocados por edital. Os candidatos deverão apresentar-se, munidos de documentos, até o dia 24.
II. Use os pronomes adequados:
1. Um encapuzado atravessou a praça e sumiu ao longe. Que vulto era _____ a vagar, altas horas da noite, pela rua deserta?
2. Jorge teria dinheiro, muito dinheiro, carros de luxo e mulheres belíssimas. _____ eram as fantasias que passavam pela mente de Jorge enquanto se dirigia para o primeiro treino na seleção.
3. Marcelo será promovido, mas terá de aposentar-se logo a seguir. Foi _____ que me revelou um amigo do diretor.
4. Todos pensam que a CPI acabará em pizza, mas não queremos acreditar _____.
5. Luís e Paulo trabalham juntos num escritório de advocacia. _____ dedica-se a causas criminais, _____ a questões tributárias.
6. Soube que você irá ocupar um alto cargo na empresa e que está de mudança para uma casa mais próxima do seu local de trabalho. Se _____ me chateou, já que somos visinhos há tantos anos, _____ me deixou muito contente.

III. Restaure a coesão nas sentenças:
1. Um homem caminhava pela rua deserta: esfarrapado, cabisbaixo, faminto, abandonado à própria sorte. _____ parecia não notar a chuva fina que caía e _____ encharcava os ossos.
2. Os grevistas paralisaram todas as atividades da fábrica. _____ durou uma semana.
3. Vimos o carro do ministro aproximar-se. Alguns minutos depois, _____ estacionava no pátio do Palácio do Governo.
4. Imagina-se que existam outros planetas habilitados. _____ tem ocupado a mente dos cientistas desde que os OVNIS começaram a ser avistados.
5. O presidente americano disse: Quem é favorável ao Eixo do Mal estará contra mim. _____ marcou uma etapa nas relações internacionais.


fonte: http://elis-mileumaideias.blogspot.com/2009/05/exercicios-de-coesao-e-coerencia.html

O navio negreiro ( análise)

II - Navio negreiro (*)


O poema Navio Negreiro foi escrito por Castro Alves – tocado e totalmente influenciado pela atmosfera libertária que empolgava a mocidade acadêmica – o poeta abraçou o ideal abolicionista. Teria sido escrito dois meses depois da correspondência entre Machado e Alencar, no dia 18 de abril de 1868. O poeta estava, portanto com 21 anos de idade. Hoje o poema está com 139 anos, portanto.

O que um crítico literário no ano de 2007, teria a dizer sobre um poema escrito no século XIX, com o tema social mais polêmico daquela época? Haveria uma ponte entre aquele tema e a nossa atualidade? O Navio negreiro foi escrito em 1850. Portanto, o Brasil já era um país pré-republicano e a Lei Euzébio de Queiroz de 1850, proibindo o odioso comércio de escravos, já havia sido assinada. Em 1854, outra Lei foi assinada, a Nabuco Araújo que impedia o desembarque navios negreiros nas contas brasileiras. As leis não estariam sendo cumpridas? Sabemos que o abolicionismo no Brasil se deu por etapas, havia muita resistência por parte dos proprietários, que se confrontavam abertamente com o Imperador. A Princesa Isabel só viria assinar a Lei Áurea em 1888. Porém, conter o tráfico de escravos parecia tarefa impossível até mesmo para a poderosa Marinha Britânica. Lembre-se que a Inglaterra foi o primeiro país a gritar contra a Escravidão. Suspeita-se haviam barcos contrabandeando homens seqüestrados da África até o final do Século XIX, portanto, em plena era condoreira. E hoje, a escravidão do homem pelo homem foi realmente extinta? Castro Alves teria sido oportunista ao levantar uma bandeira de luta já hasteada pelos republicanos? Porém, o poeta não era apenas abolicionista, era um defensor das liberdades: a liberdade política, a liberdade social e até mesmo a liberdade sexual. Neste sentido, Andrade (1979, 346) chegou a dizer “Castro Alves fue entre nosotros el primer propagandista del divorcio.”

                O poema Navio Negreiro, com seu subtítulo "Tragédia no Mar", é produto genuíno da escola romântica de conteúdo liberal. O tema é realista na sua pungente atualidade. Com uma poética presa à palavra, que depende do seu fluxo sedutor, o poeta dos escravos preserva sua essencialidade. Vale lembrar do ensaio de Andrade (1979, p.353); “Castro Alves, dominado por el patagruelismo da carnívoro de la oratória (...), se ocupo de sistematizar el empleo de la palabra em su sentido exacto, iluminándola com uma luz nueva e muy perniciosa.”

S’ tamos em pleno mar
...Doudo no espaço
Brinca o luar — dourada borboleta;

 O poema começa, pois, descritivo — e a afirmação inicial, reiterada nas próximas três estrofes, pretende reforçar, na sua enfatização estilística, uma atmosfera de sugestão poderosa.  O luar seria "uma dourada borboleta" porque visto, como se a esvoaçar. Mas a interiorização da perspectiva não tarda a se desfazer nos versos de ação. As vagas correm. Os astros saltam.
A primeira parte de Navio Negreiro contém onze estrofes compostas em quartetos, com dois versos decassilábicos, rimados. Castro Alves aponta a imensidão do oceano e do firmamento, que "ali se estreitam num abraço insano". A onisciência do poeta cede lugar, pela primeira vez, à interrogação, à dúvida, na quinta estrofe:

Donde vem ? onde vai ? Das naus errantes
Quem sabe o rumo se é tão grande o espaço ?
 
   O poeta traça um constante paralelo de idéias e imagens e o leitor é levado a deduzir que o quadro grandioso descrito não pode permitir a nódoa infame, "este borrão" que é o navio negreiro.

Albatroz ! Albatroz ! Dá-me estas asas.

Castro Alves recorre ao albatroz, pedindo que lhe dê asas, quer ser veloz e alcançar o "barco ligeiro", que lhe foge. Todo o pavor na terceira parte do poema, constituída de uma única estrofe — uma sextilha em versos dodecassilábicos. Ainda antes, na segunda parte, em décimas de redondilha maior, com rimas alternadas, Castro Alves insiste no objetivo do contraste, ao cantar o fado e a glória dos marinheiros de todo o mundo:

Nautas de todas as plagas,
Vós sabeis achar nas vagas
As melodias do céu !...
Mais adiante, em estrofes heterométricas, combinando alexandrinos com hexassílabos, presta-se admiravelmente ao verso direto, cortante e afiado, fulgindo no ar, em lampejos de ira.
Era um quadro dantesco... o tombadilho
Que das luzernas avermelha o brilho
Em sangue a se banhar.
 
O talento no uso das palavras, a sedução fácil, sobretudo dos adjetivos, trazem uma enorme carga emotiva. E elas, entregues à força imanente, apoiadas na grandiloqüência do poeta, comunicam em cheio a poesia. "... as relações de sua linguagem ordenam-se à base de uma dinâmica que, em determinados estágios, ele já não poderá controlar. Os sintagmas, progressivos, como que se projetam em espiral". (Godofredo Filho, 1959, apud Pólvora) É que a sua oratória também se embebe de subjetividades. No fervor de suas causas, na exaltação do temperamento libertário, o poeta pôs toda a alma e firmou, então, a arquitetura do poema.
A quinta parte, em décimas de redondilha maior, com rima variada, acentua o exercício de indignação. O poema passa do motivo às conseqüências. A declamação procura sensibilizar mais ainda as consciências, através da imprecação e da apóstrofe. O Poeta interpela o Deus dos desgraçados. Apela para a fúria das tempestades, noites e astros. Convoca o tufão a varrer dos mares o brigue dos horrores:
                                    
Quem são estes desgraçados
Que não encontram m vós
Mais que o rir calmo da turbas
Que excita a fúria do algoz ?
 
A última parte de Navio Negreiro, em oitavas heróicas, decassílabos camonianos, ajusta-se aos açoites finais da indignação de Castro Alves na montagem de dois quadros díspares — o canto da Natureza não conspurcada, a poluição do mar pelo barco de escravos — e, entre um e outro, o hemistíquio de suas interrogações. Novamente aí, no majestoso final, estão alguns dos versos mais encantatórios e flamejantes da escola que Castro Alves personificou no Brasil:

Meu Deus ! Meu Deus ! mas que bandeira é esta
Que impudente na gávea tripudia ?
(...)
Auriverde pendão da minha terra
Que a brisa do Brasil beija e balança.

            O menino mais eloqüente do romantismo brasileiro ainda continuará causando polêmica. Seu valor poderia ser medido pelos que se interessaram pela poesia dele. Neste trabalho vimos Mário de Andrade, Carlos Drumonnd, José de Alencar e Machado de Assis. Há ainda muitos críticos e escritores que se manifestaram sobre sua obra. O seu Navio Negreiro ainda faz parte da nossa realidade. Quem ou o quê será o atual Navio Negreiro? Os milhões de filhos de Deus que estão buscando lugares para sobreviver em terras longínquas e são explorados e desrespeitados pelos grandes proprietários do planeta nas diversas partes do mundo? Na América, em muitos países da Europa, no Japão? Os deserdados entregues aos coiotes do México?
Não há como ignorar o pungente drama de todas estas pessoas angustiadas, oprimidas e aflitas que vagam pelo mundo em busca da vida melhor que se lhes escapa entre os dedos. Falta-nos coragem, competência para mudar o curso da história atual. Mas há muitos condoreiros modernos fazendo a sua parte. Muitas vezes, cruelmente silenciados, por vezes tão jovens como Castro Alves.   A história parece se repetir em outros contextos e com novos personagens.

(*) A análise feita do Navio Negreiro é quase totalmente baseada, quase uma colagem do texto do Pólvora, citado nas referências.
    As referências 3 e 4 não estão com as datas dos ensaios, apenas com a data de acesso.




Referências:
1. ANDRADE, Mário de.  Obra. escogida : novela, cuento, ensayo, epistolario / Mario de Andrade ; selección, prólogo y notas, Gilda de Mello e Sousa ; cronología, Gilda de Mello e Souza y Laura de Campos Vergueiro. Caracas : Fundación Biblioteca Ayacucho, 1979. pp. 345-347.
2. Diálogo Epistolar entre José de Alencar e Machado de Assis - Publicada no Correio Mercantil, Rio de Janeiro, 1 de março de 1868. Disponível em: http://www.revista.agulha.nom.br/machado04.html  Acesso em 19/06/2007.
3. PARANHOS, M. da C. Castro Alves e a busca da poesia. Disponível em: http://www.revista.agulha.nom.br/castroalves.pdf    Acesso em 10/06/2007.
4. PÓLVORA, Hélio. Navio Negreiro. Disponível em:

O Navio Negreiro


Composição: Castro Alves
O Navio Negreiro
'Stamos em pleno mar
Era um sonho dantesco... o tombadilho,
Que das luzernas avermelha o brilho,
Em sangue a se banhar.
Tinir de ferros... estalar do açoite...
Legiões de homens negros como a noite,
Horrendos a dançar...

Negras mulheres, suspendendo às tetas
Magras crianças, cujas bocas pretas
Rega o sangue das mães:
Outras, moças... mas nuas, espantadas,
No turbilhão de espectros arrastadas,
Em ânsia e mágoa vãs.

E ri-se a orquestra, irônica, estridente...
E da ronda fantástica a serpente
Faz doudas espirais...
Se o velho arqueja... se no chão resvala,
Ouvem-se gritos... o chicote estala.
E voam mais e mais...
Presa dos elos de uma só cadeia,
A multidão faminta cambaleia
E chora e dança ali!

Um de raiva delira, outro enlouquece...
Outro, que de martírios embrutece,
Cantando, geme e ri!
No entanto o capitão manda a manobra
E após, fitando o céu que se desdobra
Tão puro sobre o mar,

Diz do fumo entre os densos nevoeiros:
"Vibrai rijo o chicote, marinheiros!
Fazei-os mais dançar!..."

E ri-se a orquestra irônica, estridente...
E da ronda fantástica a serpente
Faz doudas espirais!
Qual num sonho dantesco as sombras voam...
Gritos, ais, maldições, preces ressoam!
E ri-se Satanaz!...
Senhor Deus dos desgraçados!
Dizei-me vós, Senhor Deus!
Se é loucura... se é verdade
Tanto horror perante os céus...
Ó mar, por que não apagas
Co'a esponja de tuas vagas
De teu manto este borrão?...
Astros! noite! tempestades!
Rolai das imensidades!
Varrei os mares, tufão!...

Quem são estes desgraçados
Que não encontram em vós
Mais que o rir calmo da turba
Que excita a fúria do algoz?
Quem são?... Se a estrela se cala,
Se a vaga à pressa resvala
Como um cúmplice fugaz,
Perante a noite confusa...
Dize-o tu, severa musa,
Musa libérrima, audaz!

São os filhos do deserto
Onde a terra esposa a luz.
Onde voa em campo aberto
A tribo dos homens nus...

São os guerreiros ousados,
Que com os tigres mosqueados
Combatem na solidão...
Homens simples, fortes, bravos...
Hoje míseros escravos
Sem ar, sem luz, sem razão...

São mulheres desgraçadas
Como Agar o foi também,
Que sedentas, alquebradas,
De longe... bem longe vêm...
Trazendo com tíbios passos
Filhos e algemas nos braços,
N'alma lágrimas e fel.
Como Agar sofrendo tanto
Que nem o leite do pranto
Têm que dar para Ismael...

Lá nas areias infindas,
Das palmeiras no país,
Nasceram crianças lindas,
Viveram moças gentis...
Passa um dia a caravana
Quando a virgem na cabana
Cisma das noites nos véus...
...Adeus! ó choça do monte!...
...Adeus! palmeiras da fonte!...
...Adeus! amores... adeus!...

Senhor Deus dos desgraçados!
Dizei-me vós, Senhor Deus!
Se eu deliro... ou se é verdade

Tanto horror perante os céus...
Ó mar, por que não apagas
Co'a esponja de tuas vagas
De teu manto este borrão?
Astros! noite! tempestades!
Rolai das imensidades!
Varrei os mares, tufão!...

E existe um povo que a bandeira empresta
P'ra cobrir tanta infâmia e cobardia!...
E deixa-a transformar-se nessa festa
Em manto impuro de bacante fria!...
Meu Deus! meu Deus! mas que bandeira é esta,
Que impudente na gávea tripudia?!...
Silêncio!... Musa! chora, chora tanto
Que o pavilhão se lave no seu pranto...

Auriverde pendão de minha terra,
Que a brisa do Brasil beija e balança,
Estandarte que a luz do sol encerra,
E as promessas divinas da esperança...
Tu, que da liberdade após a guerra,
Foste hasteado dos heróis na lança,
Antes te houvessem roto na batalha,
Que servires a um povo de mortalha!...

Fatalidade atroz que a mente esmaga!
Extingue nesta hora o brigue imundo
O trilho que Colombo abriu na vaga,
Como um íris no pélago profundo!...
...Mas é infâmia demais...
Da etérea plaga
Levantai-vos, heróis do Novo Mundo...
Andrada! arranca este pendão dos ares!
Colombo! fecha a porta de teus mares!

Linguagem coloquial

Linguagens

quinta-feira, 23 de junho de 2011

A descrição

Produção de texto:
A descrição

Observe a cômoda. 
É possível descrevê-la de forma objetiva ou de forma subjetiva.





Na descrição objetiva, busca-se a máxima aproximação do texto com a imagem do que se vê, de forma a recriar o objeto da forma mais clara e realística possível, usando, portanto, uma linguagem clara e direta, com palavras de sentido único, ou seja, a linguagem denotativa.

 Descrição Objetiva


A cômoda é antiga, mas muito bonita. 
É laminada em raiz de nogueira e tem formato arredondado. Possui três gavetas grandes com puxadores de bronze. O tampo é de um mármore escuro e brilhante.
Descrição subjetiva

Já a descrição subjetiva procura transfigurar a coisa observada, de forma pessoal, levando em conta sentimentos e emoções, e usando para isso um caráter simbólico através de metáforas e outras figuras retóricas. 

Usa, portanto, uma linguagem conotativa.

Descrição Subjetiva

Dona Cômoda tem três gavetas. 
E um ar confortável de senhora rica. 
Nas gavetas guarda coisas de outros tempos, só para si. Foi sempre assim, dona Cômoda: gorda, fechada, egoísta.
Mário Quintana em Sapo Amarelo
Descrição Sensorial
Para enriquecer os textos descritivos, é interessante fazer o que chamamos de descrição sensorial, que nada mais é do que usar as palavras para provocar sensações.

Esse recurso,  tem o efeito de criar uma relação mais profunda com o leitor, já que além da visão, explora também os demais sentidos como a audição, paladar, olfato e tato.

 Sensações Visuais
O uso de sensações visuais é o mais comum, e normalmente se relacionam à cor, forma ou tamanho do objeto da descrição:

  O telefone é vermelho, em forma de concha, e bem pequeno, pouco maior do que sua orelha.

quarta-feira, 22 de junho de 2011

IV Concurso de Redação do Senado Federal (2º ano B)





Atividade participativa

Sobre o tema "O Brasil que a gente quer é a gente quem faz", Qual é o seu posicionamento?
Poste seu comentário.

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Oi galera dos 1ºs anos!!!

Oi galera dos 1ºs anos!!!


  
“Você irá conhecer agora a história do visitante que acompanhou, fascinado, uma aula como ela seria num futuro em que o computador tivesse substituído o professor.”
Retrocesso
O visitante estranhou porque, quando o levaram para conhecer a sala de aula do futuro, não havia
uma professora-robô, mas duas. A única diferença entre as duas era que uma era feita totalmente de
plástico e fibra de vidro — fora, claro, a tela do seu visor e seus componentes eletrônicos —, e a
outra era acolchoada. Uma falava com as crianças com sua voz metálica e mostrava figuras,
números e cenas coloridas no seu visor, e a outra ficava quieta num canto. Uma comandava a sala,
tinha resposta para tudo e centralizava toda a atenção dos alunos, que pareciam conviver muito bem
com a sua presença dinâmica, a outra dava a impressão de estar esquecida ali, como uma
experiência errada.
O visitante acompanhou, fascinado, uma aula como ela seria num futuro em que o computador
tivesse substituído o professor. O entendimento entre a máquina e as crianças era perfeito. A
máquina falava com clareza e estava programada de acordo com métodos pedagógicos
cientificamente testados durante anos. Quando não entendiam qualquer coisa as crianças sabiam
exatamente que botões apertar para que a professora-robô repetisse a lição ou, em rápidos
segundos, a reformulasse, para melhor compreensão. (As crianças do futuro já nascerão sabendo
que botões apertar.) — Fantástico! — comentou o visitante.
— Não é? — concordou o técnico, sorrindo com satisfação. 
Foi quando uma das crianças, errando o botão, prendeu o dedo no teclado da professora-robô. Nada
grave. O teclado tinha sido cientificamente preparado para não oferecer qualquer risco aos dedos
infantis. Mesmo assim, doeu, e a criança começou a chorar. Ao captar o som do choro nos seus
sensores, a professora-robô desligou-se automaticamente. Exatamente ao mesmo tempo, o outro
robô acendeu-se automaticamente. Dirigiu-se para a criança que chorava e a pegou no colo com os
braços de imitação, embalando-a no seu colo acolchoado e dizendo palavras de carinho e conforto
numa voz parecida com a do outro robô, só que bem menos metálica. Passada a crise, a criança,
consolada e restabelecida, foi colocada no chão e retomou seu lugar entre as outras. A segunda
professora-robô voltou para o seu canto e se desligou enquanto a primeira voltou à vida e à aula.
— Fantástico! — repetiu o visitante.
— Não é? — concordou o técnico, ainda mais satisfeito.
— Mas me diga uma coisa... — começou a dizer o visitante.
— Sim?
— Se entendi bem, o segundo robô só existe para fazer a parte mais, digamos, maternal do trabalho
pedagógico, enquanto o primeiro faz a parte técnica.
— Exatamente.
— Não seria mais prático — sugeriu o visitante — reunir as duas funções num mesmo robô?
Imediatamente o visitante viu que tinha dito uma bobagem. O técnico sorriu com condescendência.
— Isso — explicou — seria um retrocesso.
— Por quê?
— Estaríamos de volta ao ser humano.
E o técnico sacudiu a cabeça, desanimado. Decididamente, o visitante não entendia de futuro.
Luís Fernando Veríssimo. In Nova Escola. São Paulo. Abril, out. 1990. p. 19.
Explorando o texto:
Responda de acordo com o texto:
a. Quais as características das professoras descritas no texto?
b. Segundo o autor do texto, como seria a aula do futuro?
c. Na aula do futuro, como agiriam os alunos quando tivessem alguma dúvida?
d. O que aconteceu quando a criança machucou-se no teclado?
e. Na sua opinião, qual a razão de ter duas professoras-robô para atender aos alunos?
f. A professora de plástico e fibra de vidro satisfazia que tipo de necessidade das crianças? Por quê?
g. Qual era a função da professora acolchoada?
h. Na sua opinião, por que seria um retrocesso reunir todas as funções da professora numa máquina
apenas?
1. Na sua opinião, a professora-robô é diferente das professoras que você conhece? Por quê? 

domingo, 19 de junho de 2011

Oi galera dos 2ºs anos!!!


  
“Você irá conhecer agora a história do visitante que  acompanhou, fascinado, uma aula como ela seria num futuro em que o computador tivesse substituído o professor.”
Retrocesso
O visitante estranhou porque, quando o levaram para conhecer a sala de aula do futuro, não havia
uma professora-robô, mas duas. A única diferença entre as duas era que uma era feita totalmente de
plástico e fibra de vidro — fora, claro, a tela do seu visor e seus componentes eletrônicos —, e a
outra era acolchoada. Uma falava com as crianças com sua voz metálica e mostrava figuras,
números e cenas coloridas no seu visor, e a outra ficava quieta num canto. Uma comandava a sala,
tinha resposta para tudo e centralizava toda a atenção dos alunos, que pareciam conviver muito bem
com a sua presença dinâmica, a outra dava a impressão de estar esquecida ali, como uma
experiência errada.
O visitante acompanhou, fascinado, uma aula como ela seria num futuro em que o computador
tivesse substituído o professor. O entendimento entre a máquina e as crianças era perfeito. A
máquina falava com clareza e estava programada de acordo com métodos pedagógicos
cientificamente testados durante anos. Quando não entendiam qualquer coisa as crianças sabiam
exatamente que botões apertar para que a professora-robô repetisse a lição ou, em rápidos
segundos, a reformulasse, para melhor compreensão. (As crianças do futuro já nascerão sabendo
que botões apertar.) — Fantástico! — comentou o visitante.
— Não é? — concordou o técnico, sorrindo com satisfação. 
Foi quando uma das crianças, errando o botão, prendeu o dedo no teclado da professora-robô. Nada
grave. O teclado tinha sido cientificamente preparado para não oferecer qualquer risco aos dedos
infantis. Mesmo assim, doeu, e a criança começou a chorar. Ao captar o som do choro nos seus
sensores, a professora-robô desligou-se automaticamente. Exatamente ao mesmo tempo, o outro
robô acendeu-se automaticamente. Dirigiu-se para a criança que chorava e a pegou no colo com os
braços de imitação, embalando-a no seu colo acolchoado e dizendo palavras de carinho e conforto
numa voz parecida com a do outro robô, só que bem menos metálica. Passada a crise, a criança,
consolada e restabelecida, foi colocada no chão e retomou seu lugar entre as outras. A segunda
professora-robô voltou para o seu canto e se desligou enquanto a primeira voltou à vida e à aula.
— Fantástico! — repetiu o visitante.
— Não é? — concordou o técnico, ainda mais satisfeito.
— Mas me diga uma coisa... — começou a dizer o visitante.
— Sim?
— Se entendi bem, o segundo robô só existe para fazer a parte mais, digamos, maternal do trabalho
pedagógico, enquanto o primeiro faz a parte técnica.
— Exatamente.
— Não seria mais prático — sugeriu o visitante — reunir as duas funções num mesmo robô?
Imediatamente o visitante viu que tinha dito uma bobagem. O técnico sorriu com condescendência.
— Isso — explicou — seria um retrocesso.
— Por quê?
— Estaríamos de volta ao ser humano.
E o técnico sacudiu a cabeça, desanimado. Decididamente, o visitante não entendia de futuro.
Luís Fernando Veríssimo. In Nova Escola. São Paulo. Abril, out. 1990. p. 19.
Explorando o texto:
Responda de acordo com o texto:
a. Quais as características das professoras descritas no texto?
b. Segundo o autor do texto, como seria a aula do futuro?
c. Na aula do futuro, como agiriam os alunos quando tivessem alguma dúvida?
d. O que aconteceu quando a criança machucou-se no teclado?
e. Na sua opinião, qual a razão de ter duas professoras-robô para atender aos alunos?
f. A professora de plástico e fibra de vidro satisfazia que tipo de necessidade das crianças? Por quê?
g. Qual era a função da professora acolchoada?
h. Na sua opinião, por que seria um retrocesso reunir todas as funções da professora numa máquina
apenas?
1. Na sua opinião, a professora-robô é diferente das professoras que você conhece? Por quê?