terça-feira, 24 de junho de 2014

2º A Crônicas

Bom dia! Queridos e Queridas pesquisem crônicas e publiquem em comentários.

OBS: Sua pesquisa será válida após sua publicação!!!

Um telefone toca num fim de tarde, começo de noite . . .

* Alô?
* Pronto.
Ele: - Voz estranha... Gripada?
Ela: - Faringite.
Ele: - Deve ser o sereno. No mínimo tá saindo todas as noites pra badalar.
Ela: - E se estivesse? Algum problema?
Ele: - Não, imagina! Agora, você é uma mulher livre.
Ela: - E você? Sua voz também está diferente. Faringite?
Ele: - Constipado.
Ela: - Constipado? Você nunca usou esta palavra na vida.
Ele: - A gente aprende.
Ela: - Tá vendo? A separação serviu para alguma coisa.
Ele: - Viver sozinho é bom. A gente cresce.
Ela: - Você sempre viveu sozinho. Até quando casado só fez o que quis.
Ele: - Maldade sua, pois deixei de lado várias coisas quando a gente se casou.
Ela: - Evidente! Só faltava você continuar rebolando nas discotecas com as amigas.
Ele: - Já você não abriu mão de nada. Não deixou de ver novela, passear no shopping,
comprar jóias, conversar ao telefone com as amigas durante horas.

. . . Silêncio . . .

Ela: - Comprar jóias? De onde você tirou essa idéia? A única coisa que comprei
em quinze anos de casamento foi um par de brincos.
Ele: - Quinze anos? Pensei que fosse bem menos.
Ela: - A memória dos homens é um caso de polícia!
Ele: - Mas conversar com as amigas no telefone ...
Ela: - Solidão, meu caro, cansaço ... Trabalhar fora, cuidar das crianças e ainda
preparar o jantar para o HERÓI que chega à noite... Convenhamos, não chega a
ser uma roda-gigante de emoções ...
Ele: - Você nunca reclamou disso.
Ela: - E você me perguntou alguma vez?
Ele: - Lá vem você de novo... As poucas coisas que eu achava que estavam certas...
Isso também era errado!?
Ela: - Evidente, a gente não conversava nunca ...
Ele: - Faltou diálogo, é isso? Na hora, ninguém fala nada. Aparece um impasse e
as mulheres não reclamam. Depois, dizem que Faltou diálogo.
As mulheres são de Marte !
Ela: - E vocês são de Saturno!

. . . Silêncio . . .

Ele: - E aí, como vai a vida?
Ela: - Nunca estive tão bem. Livre para pensar, ninguém pra Me dizer o que devo fazer ...
Ele: - E isso é bom?
Ela: - Pense o que quiser, mas quinze anos de jornada são de enlouquecer qualquer uma.
Ele: - Eu nunca fui autoritário!
Ela: - Também nunca foi compreensivo!
Ele: - Jamais dei a entender que era perfeito. Tenho minhas limitações como qualquer
mortal ...
Ela: - Limitado e omisso como qualquer mortal.
Ele: - Você nunca foi irônica.
Ela: - Isso a gente aprende também.
Ele: - Eu sempre te apoiei.
Ela: - Lógico. Se não me engano foi no segundo mês de casamento que você lavou a
única louça da tua vida. Um apoio inestimável ... Sinceramente, eu não sei o
que faria sem você? Ou você acha que fazer vinte caipirinhas numa tarde para um
bando de marmanjos que assistem ao jogo da Copa do Mundo era realmente
o meu grande objetivo na vida ?
Ele: - Do que você está falando?
Ela: - Ah, não lembra?
Ele: - Ana, eu detesto futebol.
Ela: - Ana!? Esqueceu meu nome também? Alexandre, você ficou louco?
Ele: - Alexandre? Meu nome é Ronaldo!

. . . Silêncio . . .

Ele: - De onde está falando?
Ela: - 2578 9922
Ele: - Não é o 2578 9222?
Ela: - Não.
Ele: - Ah, desculpe, foi engano.

Depois de um tempo ambos caem na gargalhada.

Ele: Quer dizer que você faz uma ótima caipirinha, hein?
Ela: - Modéstia à parte... Mas não gosto, prefiro vinho tinto.
Ele: - Mesmo? Vinho é a minha bebida preferida!
Ela: - E detesta futebol?
Ele: - Deus me livre... 22 caras correndo atrás de uma bola... Acho ridículo!
Ela: - Bem, você me dá licença, mas eu vou preparar o jantar.
Ele: - Que pena... O meu já está pronto. Risoto, minha especialidade!
Ela: - Mentira! É o meu prato predileto...
Ele: - Mesmo! Bem, a porção dá pra dois, e estou abrindo um Chianti também.
Você não gostaria de...
Ela: - Adoraria!

Ele dá o endereço.

... CUIDADO COM AS LINHAS CRUZADAS ...
Luis Fernando Veríssimo

25 comentários:



  1. Pensando bem em tudo o que a gente vê e vivencia
    e ouve e pensa, não existe uma pessoa certa pra gente.
    Existe uma pessoa que se você for parar pra pensar é, na verdade, a pessoa errada.
    Porque a pessoa certa faz tudo certinho!
    Chega na hora certa, fala as coisas certas,
    faz as coisas certas, mas nem sempre a gente tá precisando das coisas certas.
    Aí é a hora de procurar a pessoa errada.
    A pessoa errada te faz perder a cabeça, perder a hora, morrer de amor...
    A pessoa errada vai ficar um dia sem te procurar
    que é pra na hora que vocês se encontrarem
    a entrega ser muito mais verdadeira.
    A pessoa errada, é na verdade, aquilo que a gente chama de pessoa certa.
    Essa pessoa vai te fazer chorar, mas uma hora depois vai estar enxugando suas lágrimas.
    Essa pessoa vai tirar seu sono.
    Essa pessoa talvez te magoe e depois te enche de mimos pedindo seu perdão.
    Essa pessoa pode não estar 100% do tempo ao seu lado, mas vai estar 100% da vida dela esperando você.
    Vai estar o tempo todo pensando em você.
    A pessoa errada tem que aparecer pra todo mundo,
    porque a vida não é certa.
    Nada aqui é certo!
    O que é certo mesmo, é que temos que viver cada momento, cada segundo, amando, sorrindo, chorando, emocionando, pensando, agindo,
    querendo,conseguindo...
    E só assim, é possível chegar àquele momento do dia em que a gente diz: "Graças a Deus deu tudo certo"
    Quando na verdade, tudo o que Ele quer é que a gente encontre a pessoa errada pra que as coisas comecem a realmente funcionar direito pra
    gente...

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  2. Pensando bem em tudo o que a gente vê e vivencia
    e ouve e pensa, não existe uma pessoa certa pra gente.
    Existe uma pessoa que se você for parar pra pensar é, na verdade, a pessoa errada.
    Porque a pessoa certa faz tudo certinho!
    Chega na hora certa, fala as coisas certas,
    faz as coisas certas, mas nem sempre a gente tá precisando das coisas certas.
    Aí é a hora de procurar a pessoa errada.
    A pessoa errada te faz perder a cabeça, perder a hora, morrer de amor...
    A pessoa errada vai ficar um dia sem te procurar
    que é pra na hora que vocês se encontrarem
    a entrega ser muito mais verdadeira.
    A pessoa errada, é na verdade, aquilo que a gente chama de pessoa certa.
    Essa pessoa vai te fazer chorar, mas uma hora depois vai estar enxugando suas lágrimas.
    Essa pessoa vai tirar seu sono.
    Essa pessoa talvez te magoe e depois te enche de mimos pedindo seu perdão.
    Essa pessoa pode não estar 100% do tempo ao seu lado, mas vai estar 100% da vida dela esperando você.
    Vai estar o tempo todo pensando em você.
    A pessoa errada tem que aparecer pra todo mundo,
    porque a vida não é certa.
    Nada aqui é certo!
    O que é certo mesmo, é que temos que viver cada momento, cada segundo, amando, sorrindo, chorando, emocionando, pensando, agindo,
    querendo,conseguindo...
    E só assim, é possível chegar àquele momento do dia em que a gente diz: "Graças a Deus deu tudo certo"
    Quando na verdade, tudo o que Ele quer é que a gente encontre a pessoa errada pra que as coisas comecem a realmente funcionar direito pra
    gente...
    Luis Fernando Veríssimo

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  3. pablo henrique 2° A24 de junho de 2014 às 06:04

    E tudo mudou...

    O rouge virou blush
    O pó-de-arroz virou pó-compacto
    O brilho virou gloss

    O rímel virou máscara incolor
    A Lycra virou stretch
    Anabela virou plataforma
    O corpete virou porta-seios
    Que virou sutiã
    Que virou lib
    Que virou silicone

    A peruca virou aplique, interlace, megahair, alongamento
    A escova virou chapinha
    "Problemas de moça" viraram TPM
    Confete virou MM

    A crise de nervos virou estresse
    A chita virou viscose.
    A purpurina virou gliter
    A brilhantina virou mousse

    Os halteres viraram bomba
    A ergométrica virou spinning
    A tanga virou fio dental
    E o fio dental virou anti-séptico bucal

    Ninguém mais vê...

    Ping-Pong virou Babaloo
    O a-la-carte virou self-service

    A tristeza, depressão
    O espaguete virou Miojo pronto
    A paquera virou pegação
    A gafieira virou dança de salão

    O que era praça virou shopping
    A areia virou ringue
    A caneta virou teclado
    O long play virou CD

    A fita de vídeo é DVD
    O CD já é MP3
    É um filho onde éramos seis
    O álbum de fotos agora é mostrado por email

    O namoro agora é virtual
    A cantada virou torpedo
    E do "não" não se tem medo
    O break virou street

    O samba, pagode
    O carnaval de rua virou Sapucaí
    O folclore brasileiro, halloween
    O piano agora é teclado, também

    O forró de sanfona ficou eletrônico
    Fortificante não é mais Biotônico
    Bicicleta virou Bis
    Polícia e ladrão virou counter strike

    Folhetins são novelas de TV
    Fauna e flora a desaparecer
    Lobato virou Paulo Coelho
    Caetano virou um chato

    Chico sumiu da FM e TV
    Baby se converteu
    RPM desapareceu
    Elis ressuscitou em Maria Rita?
    Gal virou fênix
    Raul e Renato,
    Cássia e Cazuza,
    Lennon e Elvis,
    Todos anjos
    Agora só tocam lira...

    A AIDS virou gripe
    A bala antes encontrada agora é perdida
    A violência está coisa maldita!

    A maconha é calmante
    O professor é agora o facilitador
    As lições já não importam mais
    A guerra superou a paz
    E a sociedade ficou incapaz...

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  4. O REVÓLVER DO SENADOR
    O Senador ainda estava na cama, lendo calmamente os jornais, e eram dez horas da manhã. Súbito ouve a voz do netinho de quatro anos de idade por detrás da folha aberta, bem junto de sua cabeça:
    – Vovô, eu vou te matar.
    Abaixou o jornal e viu, aterrorizado, que o menino empunhava com as duas mãos o revólver apanhado na gaveta da cabeceira. Sempre tivera a arma ali ao seu alcance, para qualquer eventualidade, carregada e com uma bala na agulha. Nunca essa eventualidade se dera na longa seqüência de riscos e tropeços que a política lhe proporcionara. No entanto, ali estava, agora, apanhado de surpresa, sob a mira de um revólver. O menino começou a rir de sua cara de espanto.
    – Eu vou te matar – repetiu, dedinho já no gatilho.
    O menor gesto precipitado e a arma dispararia.
    Pensou em estender o braço e ao menos afastar o cano de sua testa, que já começava a porejar suor. Mas temeu o susto da criança, o dedo se contraindo no gatilho... Tentou falar e de seus lábios saíram apenas sons roufenhos e mal articulados.
    – Não me mata não – gaguejou, afinal: – você é tão bonzinho...
    – Pum! Pum! – e o demônio do menino sempre a rir, só fez dar um passo para trás; que o colocou fora de seu alcance. Agora estava perdido.
    – Cuidado, tem bala... – deixou escapar, e a voz de novo lhe faltou. Toda uma vida que terminava ali, estupidamente nas mãos de uma criança – de que adiantara? Tudo aflição de espírito e esforço vão. Se alguém entrasse no quarto de repente, a mãe, a avó do menino... Que é isso, menino! Você mata seu avô! Com o susto... Senti o pijama já empapado de suor. Era preciso fazer alguma coisa, terminar logo com aquela agonia. Estendeu mansamente o braço trêmulo:
    – Me dá isso aqui...
    – Mãos ao alto! – berrou o menino, ameaçador, dando passo para trás, e as mãos pequeninas se firmaram ainda mais no cabo da arma. O Senador não teve outra coisa a fazer senão obedecer.
    E assim se compôs o quadro grotesco: o velho com os braços erguidos, o guri a dominá-lo com o revólver. De repente, porém, o telefone tocou.
    – Atende aí ­– pediu o Senador, num sopro.
    Estava salvo: o menino tomou do fone, descobrindo brinquedo novo, e abaixou o revólver. O Senador aproveitou a trégua para apoderar-se da arma. Então pôs-se a tremer, descontrolado, enquanto retirava as balas com os dedos aflitos. O menino começou a chorar:
    – Me dá! Me dá!
    A mulher do senador vinha entrando:
    –O que foi que você fez com ele? Está com uma cara esquisita... Que aconteceu?
    – Acabo de nascer de novo – explicou simplesmente.

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  5. Paquerar é bom, mas chega uma hora que cansa! Cansa na hora que você percebe que ter 10 pessoas ao mesmo tempo é o mesmo que não ter nenhuma, e ter apenas uma, é o mesmo que possuir 10 ao mesmo tempo.

    Nessas horas sempre surge aquela tradicional perguntinha: Por que aquela pessoa pela qual você trocaria qualquer programa por um simples filme com pipoca abraçadinho no sofá da sala não despenca na sua vida?
    Luiz Fernando Veríssimo

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  6. Vivemos cercados pelas nossas alternativas, pelo que podíamos ter sido.

    Ah, se apenas tivéssemos acertado aquele número (unzinho e eu ganhava a sena acumulada), topado aquele emprego, completado aquele curso, chegado antes, chegado depois, dito sim, dito não, ido para Londrina, casado com a Doralice, feito aquele teste…

    Agora mesmo neste bar imaginário em que estou bebendo para esquecer o que não fiz – aliás, o nome do bar é Imaginário – sentou um cara do meu lado direito e se apresentou:

    - Eu sou você, se tivesse feito aquele teste no Botafogo

    E ele tem mesmo a minha idade e a minha cara. E o mesmo desconsolo.

    - Por que? Sua vida não foi melhor do que a minha?

    - Durante um certo tempo, foi. Cheguei a titular. Cheguei a seleção. Fiz um grande contrato. Levava uma grande vida. Até que um dia..

    - Eu sei, eu sei… disse alguém sentado ao lado dele.

    Olhamos para o intrometido… Tinha a nossa idade e a nossa cara e não parecia mais feliz do que nós. Ele continuou:

    - Você hesitou entre sair e não sair do gol. Não saiu, levou o único gol do jogo, caiu em desgraça, largou o futebol e foi ser um medíocre propagandista.

    - Como é que você sabe?

    - Eu sou você, se tivesse saído do gol. Não só peguei a bola como me mandei para o ataque com tanta perfeição que fizemos o gol da vitória. Fui considerado o herói do jogo. No jogo seguinte, hesitei entre me atirar nos pés de um atacante e não me atirar. Como era um herói, me tirei… Levei um chute na cabeça. Não pude ser mais nada. Nem propagandista. Ganho uma miséria do INSS e só faço isto: bebo e me queixo da vida. Se não tivesse ido nos pés do atacante…

    Ele chutaria para fora. Quem falou foi o outro sósia nosso, ao lado dele, que em seguida se apresentou.

    - Eu sou você se não tivesse ido naquela bola. Não faria diferença. Não seria gol. Minha carreira continuou. Fiquei cada vez mais famoso, e agora com fama de sortudo também. Fui vendido para o futebol europeu, por uma fábula. O primeiro goleiro brasileiro a ir jogar na Europa. Embarquei com festa no Rio…

    - E o que aconteceu? perguntamos os três em uníssono.

    - Lembra aquele avião da VARIG que caiu na chegada em Paris?

    - Você…

    - Morri com 28 anos.

    - Bem que tínhamos notado sua palidez.

    - Pensando bem, foi melhor não fazer aquele teste no Botafogo…

    - E ter levado o chute na cabeça…

    - Foi melhor, continuou, ter ido fazer o concurso para o serviço público naquele dia. Ah, se eu tivesse passado…

    - Você deve estar brincando.

    Disse alguém sentado a minha esquerda. Tinha a minha cara, mas parecia mais velho e desanimado.

    - Quem é você?

    - Eu sou você, se tivesse entrado para o serviço público.

    Vi que todas as banquetas do bar à esquerda dele estavam ocupadas por versões de mim no serviço público, uma mais desiludida do que a outra. As conseqüências de anos de decisões erradas, alianças fracassadas, pequenas traições, promoções negadas e frustração. Olhei em volta. Eu lotava o bar. Todas as mesas estavam ocupadas por minhas alternativas e nenhuma parecia estar contente. Comentei com o barman que, no fim, quem estava com o melhor aspecto, ali, era eu mesmo. O barman fez que sim com a cabeça, tristemente. Só então notei que ele também tinha a minha cara, só com mais rugas.

    - Quem é você?perguntei.

    - Eu sou você, se tivesse casado com a Doralice.

    - E..?

    Ele não respondeu. Só fez um sinal, com o dedão virado para baixo…

    Creio que a vida não é feita das decisões que você não toma, ou as atitudes que você não teve, mas sim, aquilo que foi feito!

    Se bom ou não, penso, é melhor viver do futuro que do passado!
    Luiz Fernando Veríssimo

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  7. marrielly oliveira 2°A24 de junho de 2014 às 06:06

    O homem trocado

    O homem acorda da anestesia e olha em volta. Ainda está na sala de
    recuperação. Há uma enfermeira do seu lado. Ele pergunta se foi tudo bem.
    - Tudo perfeito - diz a enfermeira, sorrindo.
    - Eu estava com medo desta operação...
    - Por quê? Não havia risco nenhum.
    - Comigo, sempre há risco. Minha vida tem sido uma série de enganos...
    E conta que os enganos começaram com seu nascimento. Houve uma troca
    de bebês no berçário e ele foi criado até os dez anos por um casal de
    orientais, que nunca entenderam o fato de terem um filho claro com olhos
    redondos. Descoberto o erro, ele fora viver com seus verdadeiros pais. Ou
    com sua verdadeira mãe, pois o pai abandonara a mulher depois que esta não
    soubera explicar o nascimento de um bebê chinês.
    - E o meu nome? Outro engano.
    - Seu nome não é Lírio?
    - Era para ser Lauro. Se enganaram no cartório e...
    Os enganos se sucediam. Na escola, vivia recebendo castigo pelo que não
    fazia. Fizera o vestibular com sucesso, mas não conseguira entrar na
    universidade. O computador se enganara, seu nome não apareceu na lista.
    - Há anos que a minha conta do telefone vem com cifras incríveis. No mês
    passado tive que pagar mais de R$ 3 mil.
    - O senhor não faz chamadas interurbanas?
    - Eu não tenho telefone!
    Conhecera sua mulher por engano. Ela o confundira com outro. Não foram
    felizes.
    - Por quê?
    - Ela me enganava.
    Fora preso por engano. Várias vezes. Recebia intimações para pagar dívidas
    que não fazia. Até tivera uma breve, louca alegria, quando ouvira o médico
    dizer:
    - O senhor está desenganado.
    Mas também fora um engano do médico. Não era tão grave assim. Uma
    simples apendicite.
    - Se você diz que a operação foi bem...
    A enfermeira parou de sorrir.
    - Apendicite? - perguntou, hesitante.
    - É. A operação era para tirar o apêndice.
    - Não era para trocar de sexo?

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  8. Paquerar é bom, mas chega uma hora que cansa! Cansa na hora que você percebe que ter 10 pessoas ao mesmo tempo é o mesmo que não ter nenhuma, e ter apenas uma, é o mesmo que possuir 10 ao mesmo tempo.

    Nessas horas sempre surge aquela tradicional perguntinha: Por que aquela pessoa pela qual você trocaria qualquer programa por um simples filme com pipoca abraçadinho no sofá da sala não despenca na sua vida?

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  9. 3 - A bola

    O pai deu uma bola de presente ao filho. Lembrando o prazer que sentira ao ganhar sua primeira bola do pai. U número 5 sem tento oficial de couro. Agora não era mais de couro, era de plástico. Mas era uma bola. O garoto agradeceu, desembrulhou a bola e disse “legal” Ou o que os garotos dizem hoje em dia quando gostam do presente ou não querem magoar o velho. Depois começou a girar a bola, á procura de alguma coisa.

    - Como é que liga?_ Perguntou.

    - Como, como é que liga? Não se liga.

    O garoto procurou dentro do papel de embrulho.

    - Não tem manual de instrução?

    O pai começou a desanimar e pensar que os tempos são outros. Que os tempos são decididamente outros.

    - Não precisa manual de instrução.

    - O que é que ela faz?

    - Ela não faz nada, você é que faz coisas com ela.

    - O quê?

    - Controla, chuta...

    - Ah, então é uma bola.

    Uma bola, bola. Uma bola mesmo. Você pensou que fosse o quê?

    - Nada, não.

    O garoto agradeceu, disse “legal” de novo, e dali a pouco o pai o encontrou na frente da TV, com a bola do seu lado, manejando os controles do vídeo game. Algo chamado Monster Ball, em que times de monstrinhos disputavam a posse de uma bola em forma de Blip eletrônico na tela ao mesmo tempo que tentavam se destruir mutuamente. O garoto era bom no jogo. Tinha coordenação e raciocínio. Estava ganhando da máquina.

    O pai pegou a bola nova e ensinou algumas embaixadinhas. Conseguiu equilibrar a bola no peito do pé, como antigamente, e chamou o garoto.

    - Filho, olha.

    O garoto disse “legal”, mas não desviou os olhos da tela. O pai segurou a bola com as mãos e o cheirou, tentando recapturar mentalmente o cheiro do couro. A bola cheirava a nada. Talvez um manual de instrução fosse uma boa idéi8a, pensou. Mas em inglês pra garotada se interessar.

    Veríssimo, Luis Fernando. A bola.

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  10. Homem senta num bar ao lado de um velhinho que lhe parece familiar. O velhinho está um caco mas, mesmo assim, aquele bigodinho, aqueles olhos...
    - Desculpe, mas você não é o Adolf Hitler?
    - Sou.
    - Pensei que você tivesse...
    - Todo mundo pensou. Continuo vivo.
    - Aposto que você vive cheio de remorso pelo que fez.
    - Que foi que eu fiz?
    - Mas como? E os seis milhões de judeus que mandou matar?
    - Ach,eles. Já tinha me esquecido.
    - Quer dizer que se fosse começar outra vez, hoje, você faria a mesma coisa?
    - Não. Mandava matar seis milhões de judeus e dois acrobatas.
    - Por que dois acrobatas?
    - Viu como você esqueceu os judeus?

    A tática, ajustada às devidas proporções, tem sido muito usada por aqui. Quando um assunto ameaça a se tornar um escândalo, ou quando um escândalo ameaça se tornar assunto, acrescente, rápido, dois acrobatas. Os acrobatas passam a ser o assunto. E os acrobatas não têm falhado muito, ultimamente, neste país de distraídos. Sua última aparição foi no caso do Eduardo Jorge. Lembra dele? Eduardo Jorge, aquele que era secretário particular do... O patriciado brasileiro sobrevive porque dominou a arte de mudar de assunto.
    Luis Fernando Veríssimo

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  11. Às vezes as pessoas que amamos nos magoam, e nada podemos fazer senão continuar nossa jornada com nosso coração machucado.
    Às vezes nos falta esperança. Às vezes o amor nos machuca profundamente, e vamos nos recuperando muito lentamente dessa ferida tão dolorosa.
    Às vezes perdemos nossa fé, então descobrimos que precisamos acreditar, tanto quanto precisamos respirar…é nossa razão de existir.
    Às vezes estamos sem rumo, mas alguém entra em nossa vida, e se torna o nosso destino. Às vezes estamos no meio de centenas de pessoas, e a solidão aperta nosso coração pela falta de uma única pessoa.
    Às vezes a dor nos faz chorar, nos faz sofrer, nos faz querer parar de viver, até que algo toque nosso coração, algo simples como a beleza de um pôr do sol, a magnitude de uma noite estrelada, a simplicidade de uma brisa batendo em nosso rosto. É a força da natureza nos chamando para a vida. Você descobre que as pessoas que pareciam ser sinceras e receberam sua confiança, te traíram sem qualquer piedade. Você entende que o que para você era amizade, para outros era apenas conveniência, oportunismo. Você descobre que algumas pessoas nunca disseram “eu te amo”, e por isso nunca fizeram amor, apenas transaram… Descobre também que outras disseram “eu te amo” uma única vez. E agora temem dizer novamente, e com razão, mas se o seu sentimento for sincero poderá ajudá-las a reconstruir um coração quebrado.
    Assim ao conhecer alguém, preste atenção no caminho que essa pessoa percorreu, são fatores importantes: a relação com a família, as condições econômicas nas quais se desenvolveu. (dificuldades extremas ou facilidades excessivas formam um caráter), os relacionamentos anteriores e as razões do rompimento, seus sonhos, ideais e objetivos. Não deixe de acreditar no amor. Mas certifique-se de estar entregando seu coração para alguém que dê valor aos mesmos sentimentos que você dá.
    Manifeste suas ideias e planos, para saber se vocês combinam. E certifique-se de que quando estão juntos, aquele abraço vale mais que qualquer palavra. Esteja aberto a algumas alterações, mas jamais abra mão de tudo, pois se essa pessoa te deixar, então nada irá lhe restar.
    Tenha sempre em mente que às vezes tentar salvar um relacionamento, manter um grande amor, pode ter um preço muito alto se esse sentimento não for recíproco. Pois em algum outro momento essa pessoa irá te deixar e seu sofrimento será ainda mais intenso, do que teria sido no passado. Pode ser difícil fazer algumas escolhas, mas muitas vezes isso é necessário. Existe uma diferença muito grande entre conhecer o caminho e percorrê-lo. A tristeza pode ser intensa, mas jamais será eterna. A felicidade pode demorar a chegar, mas o importante é que ela venha para ficar e não esteja apenas de passagem…
    Luis Fernando Veríssimo

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  12. - Inimigos


    “O apelido de Maria Tereza, para Norberto, era ‘Quequinha’. Depois do casamento, sempre que queria contar para os outros uma de sua mulher, o Norberto pegava na sua mão, carinhosamente, e começava:


    - Pois a Quequinha...


    E a Quequinha, dengosa, protestava:


    -Ora, Beto!


    Com o passar do tempo o Norberto deixou de chamar a Maria Tereza de Quequinha. Se ela estivesse ao seu lado e ele quisesse se referir a ela, dizia:


    -A mulher aqui...


    Ou, ás vezes:


    -Esta mulherzinha...


    Mas nunca mais Quequinha.


    (O tempo, o tempo. O amor tem mil inimigos, mas o pior deles é o tempo. O tempo ataca o silêncio. O tempo usa armas químicas.)


    Com o tempo, Norberto passou a tratar a mulher por Ela.


    -Ela odeia o Charles Brason.


    -Ah, não gosto mesmo.


    Deve-se dizer que o Norberto, a esta altura, embora a chama-se de Ela, ainda usava um vago gesto de mão para indicá-la. Pior foi quando passou a dizer ‘essa ai’ e a apontava com o queixo.


    - Essa ai...


    E apontava com o queixo, até curvando a boca com um certo desdém.


    (O tempo, o tempo. Tempo captura o amor e não o mata na hora. Vai tirando uma asa, depois cura)


    Hoje, quando quer contar alguma coisa da mulher, O Norberto nem olha na direção. Faz um meneio de lado com a cabeça e diz:


    - Aquilo...”


    VERÍSSIMO, Luis Fernando.

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  13. Tu e Eu

    Somos diferentes, tu e eu.
    Tens forma e graça
    e a sabedoria de só saber crescer
    até dar pé.
    En não sei onde quero chegar
    e só sirvo para uma coisa
    - que não sei qual é!
    És de outra pipa
    e eu de um cripto.
    Tu, lipa
    Eu, calipto.

    Gostas de um som tempestade
    roque lenha
    muito heavy
    Prefiro o barroco italiano
    e dos alemães
    o mais leve.
    És vidrada no Lobão
    eu sou mais albônico.
    Tu,fão.
    Eu,fônico.

    És suculenta
    e selvagem
    como uma fruta do trópico
    Eu já sequei
    e me resignei
    como um socialista utópico.
    Tu não tens nada de mim
    eu não tenho nada teu.
    Tu,piniquim.
    Eu,ropeu.

    Gostas daquelas festas
    que começam mal e terminam pior.
    Gosto de graves rituais
    em que sou pertinente
    e, ao mesmo tempo, o prior.
    Tu és um corpo e eu um vulto,
    és uma miss, eu um místico.
    Tu,multo.
    Eu,carístico.

    És colorida,
    um pouco aérea,
    e só pensas em ti.
    Sou meio cinzento,
    algo rasteiro,
    e só penso em Pi.
    Somos cada um de um pano
    uma sã e o outro insano.
    Tu,cano.
    Eu,clidiano.

    Dizes na cara
    o que te vem a cabeça
    com coragem e ânimo.
    Hesito entre duas palavras,
    escolho uma terceira
    e no fim digo o sinônimo.
    Tu não temes o engano
    enquanto eu cismo.
    Tu,tano.
    Eu,femismo.

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  14. O apelido foi instantâneo. No primeiro dia de aula, o aluno novo já estava sendo chamado de "Gaúcho". Porque era gaúcho. Recém-chegado do Rio Grande do Sul, com um sotaque carregado.

    — Aí, Gaúcho!

    — Fala, Gaúcho!

    Perguntaram para a professora por que o Gaúcho falava diferente. A professora explicou que cada região tinha seu idioma, mas que as diferenças não eram tão grandes assim. Afinal, todos falavam português. Variava a pronúncia, mas a língua era uma só. E os alunos não achavam formidável que num país do tamanho do Brasil todos falassem a mesma língua, só com pequenas variações?

    — Mas o Gaúcho fala "tu"! — disse o gordo Jorge, que era quem mais implicava com o novato.

    — E fala certo — disse a professora. — Pode-se dizer "tu" e pode-se dizer "você". Os dois estão certos. Os dois são português.

    O gordo Jorge fez cara de quem não se entregara.

    Um dia o Gaúcho chegou tarde na aula e explicou para a professora o que acontecera.

    — O pai atravessou a sinaleira e pechou.

    — O que?

    — O pai. Atravessou a sinaleira e pechou.

    A professora sorriu. Depois achou que não era caso para sorrir. Afinal, o pai do menino atravessara uma sinaleira e pechara. Podia estar, naquele momento, em algum hospital. Gravemente pechado. Com pedaços de sinaleira sendo retirados do seu corpo.

    — O que foi que ele disse, tia? — quis saber o gordo Jorge.

    — Que o pai dele atravessou uma sinaleira e pechou.

    — E o que é isso?

    — Gaúcho... Quer dizer, Rodrigo: explique para a classe o que aconteceu.

    — Nós vinha...

    — Nós vínhamos.

    — Nós vínhamos de auto, o pai não viu a sinaleira fechada, passou no vermelho e deu uma pechada noutro auto.

    A professora varreu a classe com seu sorriso. Estava claro o que acontecera? Ao mesmo tempo, procurava uma tradução para o relato do gaúcho. Não podia admitir que não o entendera. Não com o gordo Jorge rindo daquele jeito.

    "Sinaleira", obviamente, era sinal, semáforo. "Auto" era automóvel, carro. Mas "pechar" o que era? Bater, claro. Mas de onde viera aquela estranha palavra? Só muitos dias depois a professora descobriu que "pechar" vinha do espanhol e queria dizer bater com o peito, e até lá teve que se esforçar para convencer o gordo Jorge de que era mesmo brasileiro o que falava o novato. Que já ganhara outro apelido: Pechada.

    — Aí, Pechada!

    — Fala, Pechada!

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  15. VIÚVA LOURA
    - "Viúva, 21 anos..."
    - Tadinha. A vida é isso.
    - "Loura..."
    - Melhorou.
    - "Fazendeira, rica..."
    - Epa, muda completamente de figura.
    - "Pertencente a tradicional família mineira..."
    - Corta essa!
    - "Recém-chegada do interior..."
    - Então, não custa sondar a barra.
    - "Procura companhia masculina..."
    - Ainda bem que é masculina. Tou às ordens.
    - "Que seja jovem..."
    - Você acha que 38 anos está na pauta?
    - "Bem intencionado..."
    - Nunca fui outra coisa na vida.
    - "De fino trato..."
    - Não é por me gabar, mas...
    - "Conhecedor dos pontos pitorescos do Rio..."
    - Que é que ela entende por pontos pitorescos? Eu prefiro pontos estratégicos.
    - "Para passeios e ..."
    - Etc., lógico.
    - "Futuro compromisso matrimonial..."
    - Corta! Corta!
    - É mesmo.
    - Aliás, eu não tenho mais de 38. Tinha, semana passada.
    - E rica... Rica de que? Talvez de predicados apenas.
    - Poxa, até parece que você está querendo a viúva pro seu bico. Pera aí, mau- caráter.
    - Eu? Vê lá se eu vou nessa onda de anúncio. Tou prevenindo pra você não se grilar. Viúva, mineira, loura... Se é mineira, não deve ser loura. Se é loura. É artificial. Se é artificial...
    - Deixa a viuvinha ser loura e mineira, deixa.
    - Olha, eu conheci uma loura que, além de outros negativos, era careca.
    - Ora, peruca resolve.
    - Sei não, mas tudo isso junto- mineira, viúva, loura, 21 anos, rica...
    - Que é que tem?
    - É exagero. Não precisava Ter tantas qualidades.
    - Foi uma graça de Deus.
    - Você não merece tanto.
    - Será outra graça de Deus.
    - Deus não deve ser assim tão desperdiçado com suas graças.
    - Lá vem você querendo dar instruções ao Altíssimo. Perde essa mania.
    - Bom, mas você não sabe que mineiro esconde milho até de monjolo?
    - Continua.
    - "Cartas com sigilo absoluto..."
    - Evidente.
    - "Indicações pessoais..."
    - Minha ficha é mais limpa do que caixa d'água de edifício quanto o síndico vai ao terraço.
    - "E fotos..."
    - Arrgh! Só tenho 3x4, muito fajuta. Mas tiro de calção, frente, perfil e fundos.
    - "Para a portaria desse jornal, sob n° 019 834."
    - Pera aí. Tou anotando. 019?
    - 834.
    - Legal. 834 é o número de meu edifício, 19 é pavão, que tem a perna dourada. Lê mais.
    - Já li tudo, ué.
    - Lê outra vez. Repete.
    - Vai decorar?
    - Vou gravar melhor na nuca, vou raciocinar em bloco, vou...
    - Se habilitar, né?
    - Correto.
    - Calma, rapaz. Sabe lá que espécie de viúva é essa?
    - Vou ver pra conferir.
    - Pode nem ser viúva.
    - E daí?
    - Diz que tem 21 anos, mas quem garante que não é modéstia? Às vezes tem três vezes 21.
    - Então você admite que ela é mineira.
    - E que cria galinha sem ração, na base da parapsicologia?
    - Também sou mineiro, uai.
    - E nunca me confessou. Eu jurava que você fosse capixaba.
    - Fui. Questão de limites, minha terra passou pra banda de cá. Não espalha, sim?
    - Me tapeou esse tempo todo.
    - Esquece.
    - Vai ser dura a parada: mineira loura versus mineiro mascarado.
    - Fica em família, né?
    - A tradicional?
    - As duas. Eu na minha, ela na dela.
    - Agora sou eu que digo: tadinha.
    - Por quê? Se ela botou anúncio, quer transar. Eu transo. No figurino.
    - É verdade que tem muito carioca por aí, muito paulista, muito nortista, espiando maré. Talvez você chegue tarde.
    - Duvido. Você sabe que nessas coisas sou meio Fittipaldi. Comigo é Fórmula-1.
    - Mineiro contando prosa? Nunca vi isso.
    - Bem, mineiro é capaz de contar prosa só pra esconder que é mineiro...
    - Chega, amizade, você já ganhou a viuvinha com fazenda e tudo, podes crer!

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  16. "Para os erros há perdão;
    para os fracassos, chance;
    para os amores impossíveis, tempo...

    Não deixe que a saudade sufoque,
    que a rotina acomode,
    que o medo impeça de tentar.
    Desconfie do destino e
    acredite em você.

    Gaste mais horas realizando que sonhando,
    fazendo que planejando,
    vivendo que esperando
    Porque, embora quem quase morre esteja vivo,
    quem quase vive já morreu."

    Luis Fernando Veríssimo

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  17. Já fazia um bom tempo que aquele policial estava de olho naquele motorista apressadinho. Ele pensou:
    Amanhã esse malandro não vai me escapar. Vou pará-lo e lhe darei uma multa daquelas bem salgadas. O engraçadinho não perde por esperar.
    No dia seguinte o policial fez o sinal para que o motorista infrator parasse. O motorista atendeu prontamente e parou o veículo. Sem perder tempo o policial foi logo dizendo:
    - Hã!...Hã! Bonito heim! Até que enfim nos encontramos. Por acaso o senhor sabia que já faz um bom tempo que eu estava aqui a sua espera.
    - Puxa vida seu policial! Sinceramente, sinto muito! Eu juro que eu não sabia, só fiquei sabendo disso há alguns minutos atrás e, como o senhor mesmo viu, eu vim o mais rápido que pude...

    Edilson Rodrigues Silva

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  18. Pelada é o futebol de campinho, de terreno baldio. Mas existe um tipo de futebol ainda mais rudimentar do que a pelada. É o futebol de rua. Perto do futebol de rua qualquer pelada é luxo e qualquer terreno baldio é o Maracanã em jogo noturno. Se você é homem, brasileiro e criado em cidade, sabe do que eu estou falando. Futebol de rua é tão humilde que chama pelada de senhora.

    Não sei se alguém, algum dia, por farra ou nostalgia, botou num papel as regras do futebol de rua. Elas seriam mais ou menos assim:

    DA BOLA - A bola pode ser qualquer coisa remotamente esférica. Até uma bola de futebol serve. No desespero, usa-se qualquer coisa que role, como uma pedra, uma lata vazia ou a merendeira do seu irmão menor, que sairá correndo para se queixar em casa. No caso de usar uma pedra, lata ou outro objeto contundente, recomenda-se jogar de sapatos. De preferência os novos, do colégio. Quem jogar descalço deve cuidar para chutar sempre com aquela unha do dedão que estava precisando ser aparada mesmo. Também é permitido o uso de frutas ou legumes em vez de bola, recomendando-se nestes casos a laranja, a maçã, o chuchu e a pêra. Desaconselha-se o uso de tomates, melancias e, claro, ovos. O abacaxi pode ser utilizado, mas aí ninguém quer ficar no golo.

    DAS GOLEIRAS - As goleiras podem ser feitas com, literalmente, o que estiver à mão. Tijolos, paralelepípedos, camisas emboladas, os livros da escola, a merendeira do seu irmão menor e até o seu irmão menor, apesar dos seus protestos. Quando o jogo é importante, recomenda-se o uso de latas de lixo. Cheias, para agüentarem o impacto. A distância regulamentar entre uma goleira e outra dependerá de discussão prévia entre os jogadores. Às vezes esta discussão demora tanto que quando a distância fica acertada está na hora de ir jantar. Lata de lixo virada é meio golo.

    DO CAMPO - O campo pode ser só até o fio da calçada, calçada e rua, rua e a calçada do outro lado e - nos clássicos - o quarteirão inteiro. O mais comum é jogar-se só no meio da rua.

    DA DURAÇÃO DO JOGO - Até a mãe chamar ou escurecer, o que vier primeiro. Nos jogos noturnos, até alguém da vizinhança ameaçar chamar a polícia.

    DA FORMAÇÃO DOS TIMES - O número de jogadores em cada equipe varia, de um a 70 para cada lado. Algumas convenções devem ser respeitadas. Ruim vai para o golo. Perneta joga na ponta, a esquerda ou a direita dependendo da perna que faltar. De óculos é meia-armador, para evitar os choques. Gordo é beque.

    DO JUIZ - Não tem juiz.

    DAS INTERRUPÇÕES - No futebol de rua, a partida só pode ser paralisada numa destas eventualidades:

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  19. A primeira provocação...

    A primeira provocação ele agüentou calado. Na
    verdade, gritou e esperneou. Mas todos os bebês fazem assim, mesmo os que nascem em maternidade, ajudados por especialistas. E não como ele, numa toca, aparado só pelo chão. A segunda provocação foi a alimentação que lhe deram, depois do leite da mãe. Uma porcaria. Não reclamou porque não era disso.
    Outra provocação foi perder a metade dos seus dez irmãos, por doença e falta de atendimento. Não gostou nada daquilo. Mas ficou firme. Era de boa paz.
    Foram lhe provocando por toda a vida.
    Não pode ir a escola porque tinha que ajudar na roça. Tudo bem, gostava da roça. Mas aí lhe tiraram a roça.
    Na cidade, para aonde teve que ir com a família, era provocação de tudo que era lado. Resistiu a todas. Morar em barraco. Depois perder o barraco, que estava onde não podia estar. Ir para um barraco pior. Ficou firme.
    Queria um emprego, só conseguiu um subemprego. Queria casar, conseguiu uma submulher. Tiveram subfilhos. Subnutridos. Para conseguir ajuda, só entrando em fila. E a ajuda não ajudava.
    Estavam lhe provocando.
    Gostava da roça. O negócio dele era a roça. Queria voltar pra roça.
    Ouvira falar de uma tal reforma agrária. Não sabia bem o que era. Parece que a idéia era lhe dar uma terrinha. Se não era outra provocação, era uma boa.
    Terra era o que não faltava.
    Passou anos ouvindo falar em reforma agrária. Em voltar à terra. Em ter a terra que nunca tivera. Amanhã. No próximo ano. No próximo governo. Concluiu que era provocação. Mais uma.
    Finalmente ouviu dizer que desta vez a reforma agrária vinha mesmo. Para valer. Garantida. Se animou. Se mobilizou. Pegou a enxada e foi brigar pelo que pudesse conseguir. Estava disposto a aceitar qualquer coisa. Só não estava mais disposto a aceitar provocação.
    Aí ouviu que a reforma agrária não era bem assim. Talvez amanhã. Talvez no próximo ano... Então protestou.
    Na décima milésima provocação, reagiu. E ouviu espantado, as pessoas dizerem, horrorizadas com ele:
    - Violência, não!

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  20. Cheia de graça é a nossa língua, portuguesa.
    Você nem precisa aprender o á-bê-cê para rir com ela.
    Desde pequeno já ouve dizer que mentira tem pernas curtas.
    E mentira tem pernas?
    E a verdade? A verdade tem pernas longas?
    E quando dói a barriga da perna?
    Ou quando ficamos de orelha em pé?
    O que a barriga tem a ver com a perna, e orelha com o pé?
    Pra ser divertido, não leve nada ao pé da letra!
    Até porque letra não tem pé. Ou tem?
    Pé-de-meia é o dinheiro que a gente economiza.
    Pé-de-moleque, doce de amendoim.
    Dedo de prosa é papo rápido.
    Dedo-duro é traidor.
    Pão-duro, pessoa egoísta.
    E boca da noite? E céu da boca?
    É uma brincadeira atrás da outra!
    Cabeça de cebola, dente de alho, braço de mar.
    Com a nossa língua, a gente pode pegar a vida pela mão.
    Pode abrir o coração. Pode fechar a tristeza.
    A gente pode morrer de medo e, ao mesmo tempo, estar vivinho da silva.
    Pode fazer coisas sem pé nem cabeça.
    Mas brincar com palavras também é coisa séria.
    Basta errar o tom e você vai parar no olho do furacão.
    Então, divirta-se. Cuidado só para não morder a língua portuguesa!

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  21. “- Me disseram...

    - Disseram-me

    - Hein?

    - O correto é ‘disseram-me’. Não ‘me disseram’.

    - Eu falo como quero. E ti digo mais... Ou ‘digo-te’?

    - O quê?

    - Digo-te que você...

    - O ‘te’ e o ‘você’ não combinam.

    - Lhe digo?

    - Também não. O que você ia me dizer?

    - Que você ta sendo grosseiro, pedante e chato. E que vou ti partir a cara. Lhe partir a cara. Partir a sua cara. Como é que se diz?

    - Partir-te a cara.

    - Pois é. Partir-la hei de, se você não parar de me corrigir. Ou corrigir-me.

    - É para o seu bem.

    - Dispenso as suas correções. Vê se esquece- me. Falo como bem entender. Mas uma correção e eu...

    - O quê?

    - O mato.

    - Que mato?

    - Mato-o. Mato-lhe. Matar- lhe- ei- te. Ouviu bem?

    - Eu só estava querendo...

    - Pois esqueça- o e pára- te. Pronome no lugar certo é para elitismo.

    - Se você prefere falar errado...

    - Falo como todo mundo fala. O importante é me entenderem. Ou entenderem- me?

    - No caso... Não sei.

    - Ah, não sabes? Não o sabes? Sabes- lo não?

    - Esquece.

    - Não. Como ‘esquece’ ou ‘esqueça’? Ilumine- me. Mo diga. Ensines- lo- me, Vamos.

    - Depende.

    - Depende. Perfeito. Não o sabes. Ensinar- me- lo- ias se o soubesse, mas não sabes-o.

    - Está bem, está bem. Desculpe. Fale como quiser.

    - Agradeço-lhe a permissão para falar errado que me dás. Mas não posso mais dizer-lo-te o que dizer-te-eia.

    - Por quê?

    - Porque, como todo esse papo, esqueci-lo.”

    Luiz Fernando Veríssimo

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  22. Um dia, um sujeito ganhou de presente um papagaio.

    O bicho era uma praga. Não demorou muito, logo se espalhou pela casa.

    Atendia telefone.

    Gritava e falava sozinho nas horas mais inesperadas.

    Dava palpite nas conversas dos outros.

    Discutia futebol.

    Fumava charuto.

    Pedia café, tomava, cuspia, arregalava os olhos, esparramava semente de girassol e cocô por todo lado, gargalhava e ainda gritava para o dono de casa: "Ô seu doutor, vê se não torra faz favor!"

    Uma noite, a família recebeu uma visita para jantar.

    O papagaio não gostou da cara do visitante e berrou: "Vai embora, ratazana!" e começou a falar cada palavrão cabeludo que dava medo.

    Depois que a visita foi embora, o dono da casa foi até o poleiro. Estava furioso:

    — Seu mal-educado, sem-vergonha de uma figa! Estou cheio! Agora você vai ver o que é bom pra tosse.

    Agarrou o papagaio pelo cangote e atirou dentro da geladeira:

    — Vai passar a noite aí de castigo!

    Depois, fechou a porta e foi dormir.

    No dia seguinte, saiu atrasado para o trabalho e esqueceu o coitado preso dentro da geladeira.

    Só foi lembrar do bicho à noite, quando voltou para casa.

    Foi correndo abrir a geladeira.

    O papagaio saiu trêmulo e cabisbaixo, com cara arrependida, cheio de pó gelado na cabeça.

    Ficou de joelhos.

    Botou as duas asas na cabeça.

    Rezou.

    Disse pelo amor de Deus.

    Reconheceu que estava errado.

    Pediu perdão.

    Disse que nunca mais ia fazer aquilo.

    Jurou que nunca mais ia fazer coisa errada, que nunca mais ia atender telefone e interromper conversa, nem xingar nenhuma visita.

    Jurou que nunca mais ia dizer palavrão nem "vai embora, ratazana".

    Depois, examinando o homem com os olhos arregalados, espiou dentro da geladeira e perguntou:

    — Queria saber só uma coisa: o que é que aquele franguinho pelado, deitado ali no prato, fez?

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  23. ZUENIR VENTURA. Há muito que se pensa em revitalizar a zona portuária do Rio, dando novo destino àquela área em grande parte ociosa. Já foram feitos vários planos e a última fantasia, como se sabe, foi a mirabolante tentativa do museu Guggenheim, felizmente derrotada pela reação da sociedade. Em geral, procura-se inspiração em exemplos como os de Nova York, Barcelona ou Buenos Aires. Não ocorre dar um pulo até Belém, onde há quatro anos três enormes galpões do cais foram transformados na monumental Estação das Docas, que é hoje um point cultural, de lazer e turístico. Tendo ido participar da VIII Feira Pan-Amazônica do Livro, pude curtir essa obra-prima de bom gosto e funcionalidade à beira da Baía de Guajará. O projeto, de autoria dos arquitetos Paulo Chaves e Rosário Lima, aproveitou a estrutura de ferro existente, cercou-a de vidro e obteve uma estética de transparência que permite continuidade visual: de dentro se vê o rio de um lado e o velho casario do outro. Não se perde nada da paisagem em torno. No antigo Armazém 1, que virou Boulevard das Artes, há cervejaria, café, exposições de arte, museu do porto, farmácia, banco e livraria, distribuídos pelo térreo e o mezanino. No 2 fica o Boulevard da Gastronomia, com cinco restaurantes — de marisco, comida oriental, internacional, paraense, italiana — e um irresistível balcão de sorvete com 48 sabores regionais. No mezanino, ficam pizzaria, comida a quilo, sanduíches etc. No que era o Armazém 3, está situado um auditório com 450 lugares para múltiplos usos, incluindo cinema e teatro. O restante do espaço é destinado a exposições e feiras. Na parte externa, além das varandas abertas com mesas e cadeiras, há um largo calçadão onde as pessoas passeiam, de preferência nos fins de tarde e à noite, para aproveitar a brisa do rio. No ancoradouro flutuante, pode-se pegar um barco e dar uma volta turística pela baía. O que é o marketing. Fala-se muito da revitalização do Pelourinho, em Salvador, até com razão, mas muito pouco do que foi feito com o centro histórico de Belém. E, no entanto, só o complexo cultural Feliz Lusitânia, com o velho forte, o Museu de Arte Sacra e o do Encontro, a Casa das Onze Janelas, já é uma mostra invejável de reciclagem e preservação. Até a briga entre prefeitura e estado, administrados por partidos adversários, cria uma saudável competição, cada um querendo realizar mais que o outro — ao contrário de um lugar que conheço. Por isso, faço um apelo ao nosso futuro prefeito: dê um pulo em Belém e visite pelo menos a Estação das Docas, se não tiver tempo de ver tudo.

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  24. No último dia de férias, Lilico nem dormiu direito. Não via a hora de voltar à escola e rever os amigos. Acordou feliz da vida, tomou o café da manhã às pressas, pegou sua mochila e foi ao encontro deles. Abraçou-os à entrada da escola, mostrou o relógio que ganhara de Natal, contou sobre sua viagem ao litoral. Depois ouviu as histórias dos amigos e divertiu-se com eles, o coração latejando de alegria. Aos poucos, foi matando a saudade das descobertas que fazia ali, das meninas ruidosas, do azul e branco dos uniformes, daquele burburinho à beira do portão. Sentia-se como um peixe de volta ao mar. Mas, quando o sino anunciou o início das aulas, Lilico descobriu que caíra numa classe onde não havia nenhum de seus amigos. Encontrou lá só gente estranha, que o observava dos pés à cabeça, em silêncio. Viu-se perdido e o sorriso que iluminava seu rosto se apagou. Antes de começar, a professora pediu que cada aluno se apresentasse. Aborrecido, Lilico estudava seus novos companheiros. Tinha um japonês de cabelos espetados com jeito de nerd. Uma garota de olhos azuis, vinda do Sul, pareceu-lhe fria e arrogante. Um menino alto, que quase bateu no teto quando se ergueu, dava toda a pinta de ser um bobo. E a menina que morava no sítio? A coitada comia palavras, olhava-os assustada, igual a um bicho-do-mato. O mulato, filho de pescador, falava arrastado, estalando a língua, com sotaque de malandro. E havia uns garotos com tatuagens umas meninas usando óculos de lentes grossas, todos esquisitos aos olhos de Lilico. A professora? Tão diferente das que ele conhecera... Logo que soou o sinal para o recreio, Lilico saiu a mil por hora, à procura de seus antigos colegas. Surpreendeu-se ao vê-los em roda, animados, junto aos estudantes que haviam conhecido horas antes. De volta à sala de aula, a professora passou uma tarefa em grupo. Lilico caiu com o japonês, a menina gaúcha, o mulato e o grandalhão. Começaram a conversar cheios de cautela, mas paulatinamente foram se soltando, a ponto de, ao fim do exercício, parecer que se conheciam há anos. Lilico descobriu que o japonês não era nerd, não: era ótimo em Matemática, mas tinha dificuldade em Português. A gaúcha, que lhe parecera tão metida, era gentil e o mirava ternamente com seus lindos olhos azuis. O mulato era um caiçara responsável, ajudava o pai desde criança e prometeu ensinar a todos os segredos de uma boa pescaria. O grandalhão não tinha nada de bobo. Raciocinava rapidamente e, com aquele tamanho, seria legal jogar basquete no time dele. Lilico descobriu mais. Inclusive que o haviam achado mal-humorado quando ele se apresentara, mas já não pensavam assim. Então, mirou a menina do sítio e pensou no quanto seria bom conhecê-la. Devia saber tudo de passarinhos. Sim, justamente porque eram diferentes havia encanto nas pessoas. Se ele descobrira aquilo no primeiro dia de aula, quantas descobertas não haveria de fazer no ano inteiro? E, como um lápis deslizando numa folha de papel, um sorriso se desenhou novamente no rosto de Lilico.

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  25. João Pedro Oliveira Santos24 de junho de 2014 às 06:15

    ZUENIR VENTURA. Não sei se o debate entre os principais candidatos à prefeitura serviu para diminuir o número de 1,5 milhão de eleitores indecisos ou para aumentá-lo, mas foi útil para se levantar algumas questões que foram suscitadas pelo bate-boca entre Cesar Maia e Luiz Paulo Conde, criador e criatura. Por exemplo, e se as acusações que um faz ao outro forem verdadeiras? E se os dois tiverem razão? Era preciso saber se são denúncias fundamentadas, porque são graves, levando-se em consideração que há doze anos os dois se revezam no comando da cidade: um já foi prefeito, o outro ainda é e os dois querem ser de novo. A sorte da apresentadora Leilane Neubarth, que fez vários apelos de paz, é que o acaso colocou os dois bem separados, mantendo-os a uma prudente distância física. Senão, teriam dado mais trabalho. Na troca de ofensas, eles se acusaram de receber benefícios pecuniários em algum momento, como candidatos ou como administradores. A briga se deu em vários rounds. O primeiro foi a insinuação feita por Conde de que César teria nomeado o secretário de Saúde por “apreço”, um trocadilho que não deixava dúvida: seria o pagamento por Ronaldo César Coelho ter financiado a campanha do prefeito. As denúncias mais pesadas viriam em seguida. Ao fazer a defesa de seu secretário, Cesar voltou à antiga carga de que o escritório de arquitetura de Conde aumentou escandalosamente seu faturamento enquanto ele estava na prefeitura. Ao se defender, Conde pegou mais pesado ainda, usando palavras e gestos (estes não chegaram ao vídeo) para chamar o seu opositor de — digamos suavemente — desonesto. “O candidato da especulação é ele. Todos os edifícios da Barra têm cartaz dele”, gritou, e aí assistiu-se a um tiroteio em que palavras como “vil”, “mentiroso”, “sem-vergonha” não precisaram de microfone para ser ouvidas. Um espetáculo edificante — ainda bem que em horário impróprio para menores. Outras acusações igualmente graves foram feitas pelos demais candidatos, e os telespectadores teriam agradecido a eles a gentileza de explicitá-las, em lugar de apresentá-las de maneira mais ou menos indireta ou velada. O bispo Crivella chegou a falar em “máfia” e Jandira Feghalli repetiu o que já disse sobre o tema. Não sei se entendi bem, mas parece que ambos queriam dizer que existe uma “máfia” dos transportes não só ilícitos (vans, Kombis e ônibus piratas), mas lícitos também, mantendo relações pouco ortodoxas com a prefeitura. Será isso? Eu não suspeitava. Ah, sim, foi um debate anunciado como de idéias e de propostas para a cidade.

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