A
narração é um texto dinâmico, que contém vários fatores de dependência que são
extremamente importantes para a boa estruturação do texto. Narrar é contar um
fato, e como todo fato ocorre em determinado tempo, em toda narração há sempre
um começo um meio e um fim. São requisitos
básicos para que a narração esteja completa.
Sendo assim, começaremos por expor os
elementos que formam a estrutura da narrativa:
TEMPO:
O intervalo de tempo em que o(s) fato(s) ocorre(m). Pode ser um tempo
cronológico, ou seja, um tempo especificado durante o texto, ou um tempo
psicológico, onde você sabe que existe um intervalo em que as ações ocorreram,
mas não se consegue distingui-lo.
ESPAÇO: O espaço é imprescindível, e deve ser esclarecido
logo no início da narrativa, pois assim o leitor poderá localizar a ação e
imaginá-la com maior facilidade.
ENREDO: É o fato em si. Aquilo que ocorreu e que está sendo
narrado. Deve ter um começo, um meio e um fim.
PERSONAGENS: São os indivíduos que participaram do
acontecimento e que estão sendo citados pelo narrador. Há sempre um núcleo
principal da narrativa que gira em torno de um ou dois personagens, chamados de
personagens centrais ou principais (protagonistas).
NARRADOR: É quem conta o fato. Pode ser em primeira pessoa,
o qual por participar da história é chamado narrador-personagem, ou em terceira pessoa, o qual não participa dos
fatos, e é denominado narrador-observador.
INTRODUÇÃO: Na introdução devem conter informações já citadas acima, como o tempo, o espaço, o enredo
e as personagens.
TRAMA:
Nessa fase você vai relatar o fato propriamente dito, acrescentando somente os
detalhes relevantes para a boa compreensão da narrativa. A montagem desses
fatos deve levar a um mistério, que se desvendará no clímax.
CLÍMAX: O clímax é o momento chave da narrativa, deve ser
um trecho dinâmico e emocionante, onde os fatos se encaixam para chegar ao
desenlace.
DESENLACE: O desenlace é a conclusão da narração, onde tudo
que ficou pendente durante o desenvolvimento do texto é explicado, e o
“quebra-cabeça”, que deve ser a história, é montado.
Alguns exemplos
O dia que virou um
dia.
Os primeiros raios de sol, brandos como um leve toque, anunciam um novo
dia de uma preguiçosa segunda-feira. Maria acorda, ingere algum pão e café,
despede-se da família e se põe a caminhar em direção ao ponto de ônibus. Não
tão longe dela, José executa as mesmas ações, porém, não se sabe se desperdiçou
os mesmos momentos de adeus.
Maria cumpre mais uma jornada de trabalho e, cansada, roga a volta a
casa. Entra então, em um lotação, cujos passageiros a rotina á a fez conhecer.
José, bandido inveterado, passa o mesmo dia a caminhar, tramar e agir. Todavia,
finda-se a data para ele também e, não estando satisfeito com as finanças
adquiridas, envolve-se em dantescos pensamentos.
Vem lá o transporte com Maria. O mesmo é avistado pelo marginal, que
logo conclui seu plano iminente de execução. E o faz. O aceno com a mão indica
ao motorista que pare o veículo e o deixe entrar. As vistas de Maria mudam
imediatamente de direção e cruzam-se com as de José. Este segue, como quem mede
os passos, ao encontro daquela. Fita-lhe mais uma vez os olhos e estende-lhe os
braços. Aquelas magras mãos tocam a moça e, brutalmente, puxam-na para o mais
perto de si: tem uma refém.
José anunciou o assalto e obrigou o condutor a parar o cano. Endiabrado,
mostra a sua arma e faz com que Maria a sinta na nuca. O tumulto chama, com
brevidade, a atenção do povo e, consequentemente a da polícia. E nesta hora que
começam algumas negociações. Com prontidão chega a imprensa, que transforma
José em o José. bem como Maria em a Maria.
Passadas já muitas horas, o bandido põe em prática um novo plano: tentar
sair do ônibus com a sua refém. Ouve-se um tiro, que atinge Maria. Vendo que
iria ser baleado, José dispara mais três tiros de sua arma, que ferem
mortalmente as costas da moça. O criminoso é dominado e posto na viatura, onde sorrateiramente
morre. A defunta vira manchete, heroína. Passa-se uma semana e aquela foi
apenas mais uma segunda-feira em uma grande metrópole.
Diógenes Darce C. de Lima
Além do espelho,
lembranças!
Um dia, quando encerrava meu trabalho, fixei a atenção em um simples
objeto dc minha sala. Caminhei, paulatinamente, ao seu encontro e, à medida que
me aproximava, sentia meu ego explodir em sensações indescritíveis.
Ali, diante dele, parei. Meu reflexo testemunhava as marcas do passado e
trazia, à tona, as lembranças da infância e da adolescência. As imagens, agora,
misturavam-se, comprometendo minha lucidez. Senti meu corpo flutuar e minha
visão apagar-se, de forma que eu me concentrava em recordações, apenas.
Assim, momentos depois, revia meus irmãos e vizinhos correndo em volta
da mesa, mamãe fazendo o jantar, papai lendo o jornal, os cães brincando no
jardim e, também, meus amigos de colégio, antigos casos amorosos.
Recuperei o bom senso, por um instante, mas não durou mais que isso,
pois, novamente, brotam outros pensamentos: o nascimento dos filhos e a
ascensão profissional.
Minutos depois, tudo acabara. Diante de mim havia só um espelho, cujo
reflexo já não era de um cenário fantasioso de minha mente.
Luana Stephanie de Medeiros
Uma lição de vida
Lembro-me de uma manhã em que descobri um casulo na casca de uma árvore,
no momento em que a borboleta rompia o invólucro e se preparava para sair.
Esperei algum tempo, mas estava demorando muito e eu tinha pressa.
Irritado e impaciente, curvei-me e comecei a esquentá-lo com o meu
hálito. E o milagre começou a acontecer diante de mim num ritmo mais rápido que
o natural. O invólucro se abriu e a borboleta saiu, arrastando-se. Nunca hei de
esquecer o horror que senti: suas asas ainda não estavam abertas e todo o seu corpinho
tremia, no esforço para desdobrá-las.
Curvado por cima dela, eu a ajudava com o meu hálito. Em vão. Era
necessária urna paciente manutenção e o desenrolar das asas devia ser feito
lentamente ao sol. Agora era tarde demais. Meu sopro obrigava a borboleta a se
mostrar, antes do tempo, toda amarrotada. Ela se agitou desesperada e, alguns
segundos depois, morreu na palma de minha mão.
Acho que aquele pequeno cadáver é o peso maior que tenho na consciência.
Hoje, entendo bem isso: é um pecado mortal forçar as grandes leis.
Não devemos nos apressar, nem ficar impacientes, mas seguir confiantes o
ritmo eterno.
Nikos Kazantzakis
Tarefa para casa
Crie uma narrativa na qual esse trecho seja inserido coerentemente.
Quando a criatura
encantada lhe disse que ele teria direito a apenas um único desejo, ele, muito
esperto, soube instantaneamente o que pediria.
— Se é assim, quero
ter o dom de poder realizar todos os meus desejos, bastando para isso apontar
apenas o meu dedo.
— Que assim seja,
mestre! — disse a criatura com um sorriso irônico.
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