domingo, 5 de junho de 2011

Versos inscritos numa taça feita de um crânio


Não, não te assustes; não fugiu o meu espírito; 
Vê em mim um crânio, o único que existe,  
Do qual, muito ao contrário de uma fronte viva,  
Tudo aquilo que flui jamais é triste.  
Vivi, amei, bebi, tal como tu; morri;  
Que renuncie a terra aos ossos meus;  
Enche! Não podes injuriar-me; tem o verme 
Lábios mais repugnantes do que os teus.  
Antes do que nutrir a geração dos vermes, 
Melhor conter a uva espumejante;  
Melhor é como taça distribuir o néctar  
Dos deuses, que a ração da larva rastejante. 
Onde outrora brilhou, talvez, minha razão, 
Para ajudar os outros brilhe agora eu;  
Substituto haverá mais nobre do que o vinho 
Se o nosso cérebro já se perdeu?  
Bebe enquanto puderes; quando tu e os teus  
Já tiverdes partido, uma outra gente 
Possa te redimir da terra que abraçar-te,  
E festeje com o morto e a própria rima tente. 
E por que não? Se as frontes geram tal tristeza  
Através da existência – curto dia -,  
Redimidas dos vermes e da argila  
Ao menos possam ter alguma serventia


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